Sempre tive um certo receio em assumir caso eu sentisse
saudade de alguém. Aprendi -da pior maneira- que é melhor manter algumas coisas em silêncio, e
hoje não foi diferente. Eu senti saudade sua, mas não expus aos quatro cantos
do Mundo.
Na verdade, lhe escrevo para dizer que engoli toda aquela
raiva e mágoa. Engoli aos poucos, e mesmo assim engasguei-me algumas vezes. Eu
engoli tudo que você me causou, e deixei pela primeira vez a saudade buscar
todas as coisas boas que passamos. Minha memória foi de encontro a essa
saudade, mas dessa vez eu a deixei gritar. Pra ser sincera, hoje eu entendo
porque tantas vezes quis mantê-la em silêncio.
Dizem que quando é pra ser, não há nada que impeça. E se
essa coisa toda existe mesmo, então acredito que no nosso caso não tinha que
ser. E que nosso tempo foi completamente errado, mas tudo que aprendemos me
parecia ser correto. Eu até cheguei a apostar algumas vezes que a gente daria
certo.
Meu tesão e comprometimento com o futuro e tua teimosia em
querer somente o presente nos distanciaram.
Devo confessar-lhe que fazia um tempinho que eu não sabia o
que era saudade. Mas hoje, depois de tanto tempo, senti saudade de como você
mexia no meu cabelo. De todas as vezes em que olhava com a cara mais lavada
depois de ter feito alguma merda e sussurrava bem baixinho algo que eu nunca
conseguia entender, ou fingia não entender só pra não ter certeza do que eu já
tinha certeza. Senti falta do teu sorriso e até do teu cabelo desarrumado. Eu
até pude sentir um pouco do teu cheiro no meu travesseiro e ouvi tua voz
dizendo que nós formávamos uma bela dupla.
Inocentemente soltei um sorriso ao lembrar de tudo isso e de
todas as vezes em que você tentava me escrever, mas dizia que não
conseguia porque não tinha esse mesmo dom que você teimava em dizer que tenho.
De todas as vezes em que você escondia algo só pra me irritar. Lembrei-me do
teu ciúme que chegava a ser bobo por ser tão descontrolado. A saudade me fez
lembrar até daquela vez que você quis brigar com um carinha qualquer por causa
de mim. Você é bobo, querido.
Estou deixando essa tal saudade gritar e confesso que não
mudaria nada daquela época. E por você eu até pensaria em casamento. Escreveria
um livro narrando tuas manias e tudo o que passamos juntos.
Sinto dizer-lhe que minha saudade está indo embora e preciso
terminar esse texto. Hoje eu não te quero mais; mas mesmo assim, carrego-te
comigo. Carrego pra lembrar de tudo que aprendi nesse nosso tempo. Saibas que
deixei um pedaço meu aí também, pra você não se esquecer de lembrar de mim.